Cinco ótimas primeiras frases de livros

Que por acaso fazem parte de ótimos livros. Um texto em que uso muitas vezes a palavra "ótimo".

Thiago T.
3 min readJun 29, 2021

A primeira frase de um livro talvez seja a mais difícil de ser escrita. Ela apresenta ao leitor o que virá adiante. Alguns podem usar o chavão “a primeira impressão é a que fica”. Eu não concordo, necessariamente, com essa afirmação. Mas, não posso negar que um bom começo sempre ajuda.

Abaixo selecionei cinco primeiras frases de (quatro) livros que — em minha visão unilateral e egoísta — são sensacionais. Na verdade, fiz a lista como um combo, pois acho que tanto as frases quanto os livros são ótimos. Sim, pois a primeira frase não necessariamente garante uma história boa. Porém, neste caso, as frases são — efetivamente — um convite para boas leituras.

Sem mais explicações, vamos a lista:

  • O Apanhador no Campo de Centeio — J. D. Salinger

Você abre o livro e se depara com o seguinte:

“Se querem mesmo ouvir o que aconteceu, a primeira coisa que vão querer saber é onde eu nasci, como passei a porcaria da minha infância, o que meus pais faziam antes que eu nascesse, e toda essa lengalenga tipo David Copperfield, mas, para dizer a verdade, não estou com vontade de falar sobre isso.”

Como não continuar lendo um livro que começa dessa forma? Como não querer ouvir o que aconteceu com o narrador? Esse início exemplifica o poder de uma boa frase e foi justamente ele que me motivou a escrever esse texto.

  • Memórias Póstumas de Brás Cubas — Machado de Assis

O curioso de Memórias Póstumas é que as suas duas primeiras frases são ótimas. Tanto a frase que antecede o prefácio, quanto a primeira frase do capítulo um (abaixo transcritas), mostram que uma boa história virá adiante (e que história).

“Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas.”

“Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte.”

E aí? Qual das duas você gostou mais? Injusto fazer uma escolha, certo?

  • O Estrangeiro — Albert Camus

Considerei as duas primeiras frases de O Estrangeiro como sendo uma só, pois teoricamente poderiam ser.

“Hoje, a mãe morreu. Ou talvez ontem, não sei bem.”

Ainda que considerasse apenas a primeira frase, ela já seria impactante, mas quando lida em sequência com a segunda, temos uma grande abertura!

  • Prefácio de Pergunte ao Pó (de John Fante) escrito por Charles Bukowski

Tudo bem. Talvez eu tenha meio que trapaceado ao escolher a frase a seguir. A primeira frase de Pergunta ao Pó não tem nada de especial (apesar de o livro ser muito bom). Porém, tão bom quanto o livro é o prefácio do livro que é escrito por Charles Bukowski.

“Eu era um jovem, passando fome, bebendo e tentando ser escritor.”

Se você é uma pessoa que costuma pular ou não prestar a atenção em prefácios, suponho que dificilmente conseguiria deixar de ler um prefácio que comece com a frase acima transcrita.

Então é isso. A lista está pronta. Existem outras inúmeras frases incríveis que abrem ótimos livros. Mas o intuito deste texto não é — e está longe de ser — fazer uma lista exaustiva. Esse texto é apenas um convite para essa conversa. Assim sendo, caso, algum dia, alguém leia esse texto e tenha uma sugestão, uma primeira frase favorita, não hesite em deixá-la nos comentários.

E que tal terminarmos esse texto com a ótima última frase de um dos livros citados acima:

"Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria."

Quer saber de qual livro é? Não vou contar! Esse é um texto livre de spoilers :)

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Thiago T.

Aqui escrevo uma frase sagaz para me sentir descolado.